Charles Cooper
Uma menina de 12 anos de idade levanta a vista do computador, desconcertada por uma sequência de códigos projetados na parede da sala de aula. “Pode me dizer o significado de randit outra vez?”, pergunta Tricia Menon.
A garota sentada ao seu lado, Avni Shah, beirando os 10 anos, não perde a oportunidade e explica: “Números inteiros aleatórios”.
A engenheira do PayPal, Monalisa Patel, sorri diante do intercâmbio de informações entre as duas e segue com a aula para as meninas sobre a linguagem de programação Python.
O momento de aprendizado, oferecido através do programa do PayPal “Girls in Tech”, é parte de uma ambiciosa iniciativa da empresa para reverter a falta de mulheres que atuam na indústria tecnológica.
Elas vão ter que trabalhar com afinco: na área de tecnologia e dos campos relacionados com a ciência, a engenharia ou a matemática – as profissões com alguns dos trabalhos que oferecem melhores remunerações nos Estados Unidos –, as mulheres representam apenas 24% do número de engenheiras ou cientistas nos EUA. Baixas porcentagens também predominam em outras regiões do mundo, segundo dados das Nações Unidas.
Essa realidade preocupou Rahul Shah, diretor sênior do PayPal. Tanto que, em 2014, ele decidiu que era preciso fazer algo para alterar esse status quo.
“A maioria das meninas não concluem cursos nessa área porque não estão expostas à tecnologia desde muito pequenas”, diz Shah, que soube que boa parte dos programas de introdução à tecnologia para meninas começam apenas quando elas já são adolescentes. “Se você quer influenciá-las, tem que iniciar antes, quando têm entre oito o 12 anos”, diz.
Partindo dessa ideia, ele formulou um projeto para convidar as meninas a conhecer em sala de aula no campus PayPal os conceitos básicos da codificação, utilizados pelos engenheiros da empresa. O programa de verão dura seis semanas e as ensina várias linguagens de programação, como Scratch (desenvolvido no MIT) e Python.
As garotas passam sessões de duas horas no campus do PayPal, três vezes por semana, em oito localidades, incluindo Austin, Omaha, Boston, Salt Lake City e Chennai, na Índia. Estão previstos para começar cursos em Dublin e Paris no próximo ano.
“Vai além do que apenas ensinar-lhes tecnologia. É fazer com quem elas divirtam-se e se emocionem com a tecnologia”, exulta Shah.
Jayashree Sundaresan, que dirigiu o programa do PayPal em Chennai, considera que a exposição das estudantes aos cursos e suas interações na escola tiveram um impacto muito positivo. “Posso dizer, com certeza, que pudemos convencer as meninas que a codificação pode ser divertida”, garante Sundaresan.
Cerca de 100 garotas participaram do programa este ano, mas Shah tem o objetivo de ir mais longe. Uma das propostas é convidar outras empresas de tecnologia para começar iniciativas similares. Para isso, o PayPal construiu um plano de estudos que pode ser utilizado por outras companhias facilmente.
Bhupendra Ubeja, diretor do PayPal em San José, Califórnia, viu o resultado do projeto em sua própria casa. Ele percebeu que sua filha, Riya, ganhou mais confiança após participar do “Girls in Tech”. “Foi perguntado às meninas no ano passado o que haviam aprendido. E elas disseram: 'Somos líderes!'. Isso é simplesmente fantástico. Agora elas planejam do seu futuro”, diz Ubeja.
Um estudo da ONU reflete esse sentimento. Nele, os pesquisadores constataram que as meninas que tiveram aulas de tecnologia ocuparam melhores posições e ajudaram suas comunidades de maneira significativa com a introdução de novas tecnologias, cuidados com a saúde e oportunidades educacionais.
Uma nova diversão
Quando a engenheira Monalisa Patel disparou para a classe uma série de perguntas rápidas, as meninas, cujos pés mal alcançavam o chão, responderam com entusiasmo e uma variedade de soluções e comentários:
“Tem que colocar a barra invertida e o acento agudo.”.
"Temos que incluir um parênteses ali!".
“O que acontece quando você executa essa linha, porém escreve um 'o' minúsculo ao invés de um maiúsculo?”
Monalisa as levou passo a passo, falando com paciência sobre o problema a resolver até que todas as cabeças da sala assentiram em uníssono.
“Trata-se de ensinar a pensar e racionalizar”, disse mais tarde. “De conseguir que elas cresçam”.
E crescer foi o que as meninas fizeram.
“Adoro codificar, e há tantas coisas novas que aprendi! É simplesmente genial!”, diz Tricia, uma das girls in tech.