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O lado cheio do copo d’água
O Brasil atravessa sua mais grave crise econômica em décadas. São dois anos seguidos de recessão (2015 e 2016), tempestade não vista desde os anos 1930. O desemprego bateu dois dígitos, a inflação engoliu parte do orçamento das famílias, os juros altos inibem investimentos. Nas linhas de empréstimos para pessoas jurídicas, as taxas variam de 31% a 69%, informam Banco Central e Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).  É ambiente, portanto, contraindicado tanto à expansão de operações quanto à instalação de negócios por quem não tem recursos próprios.
 
Mas o mundo, minha gente, não acabou. Os tempos de intempéries macroeconômicas podem ser férteis para identificar oportunidades e preparar o terreno para quando a chuvarada passar. É questão de enxergar o chamado lado cheio do copo d’água. Se o crédito está caro e escasso nas linhas bancárias, a queda na atividade econômica vem tornando mais barato o investimento. Os dados do IBGE confirmam. O Índice de Preços ao Produtor (IPP), que mede a variação dos preços industriais, caiu 1,21% em março; no primeiro trimestre, o recuo foi de 1,17%.
 
Se os produtos saem mais barato das fábricas, é boa hora de comprá-los. Na indústria de bens de capital, a queda de preços em março foi de 1%; em fevereiro, a deflação fora de 0,41%. No primeiro trimestre, máquinas e equipamentos não subiram (0,02%), itens de informática recuaram 1,04%. Assim, o momento pode ser adequado para modernizar operações e substituir aparelhos obsoletos. Negociação direta com o fabricante ou encomendas conjuntas com outros pequenos e médios empresários podem render descontos ou planos vantajosos de parcelamento.
 
Na inviabilidade de expandir operações, economizar é um caminho indicado para aumentar rentabilidade e eficiência. São mais que bem-vindos gastos com consumo inteligente de energia, redução do consumo de água, captação de chuva para uso diverso, adaptação da frota a combustíveis mais baratos ou renováveis.
 
A alta do dólar no último ano e meio devolveu competitividade às exportações brasileiras. Ao mesmo tempo, abriu uma janela de oportunidade à substituição de importações. O ambiente é indicado às negociações de médio e longo prazo com fornecedores locais, que tanto sofreram com a concorrência dos produtos estrangeiros quando o real era moeda valorizada.
 
Empreendedores ligados à cadeia do turismo igualmente podem se beneficiar da mudança no câmbio. O Brasil ficou mais barato para os estrangeiros, o que ajuda a atrair visitantes de fora. Ao mesmo tempo, as viagens internacionais tornaram-se mais caras para quem ganha em reais. Os gastos dos brasileiros no exterior no primeiro trimestre de 2016 somaram US$ 2,9 bilhões, contra US$ 5,2 bi um ano antes. Com isso, férias no exterior estão sendo substituídas por roteiros internos.
 
Uma avaliação superficial tende a associar crise exclusivamente à desolação. A chave do sucesso está na capacidade de identificar à distância o vale das oportunidades. E desfrutá-las. 
 
 
 

Flávia Oliveira, Jornalista

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